A CIDADE DO HOMEM NU
Com: Claudia Andujar, Cristina Lucas, Daria Martin, Dzi Croquettes, Egle Budvytyte, Flavio de Carvalho, Miguel Angel Rojas, Ney Matogrosso e Santiago Monge. Curador: Inti Guerrero
Em 1930, o artista e arquiteto Flávio de Carvalho (1899-1973) propôs a construção de uma nova cidade nos trópicos. Sua proposta, intitulada A cidade do homem nu, idealizava uma metrópole para o homem do futuro, o qual, segundo ele, não teria nem Deus, nem propriedade é nem matrimônio. Em outras palavras, tratava-se de um urbanismo pensado para uma humanidade que teria se despojado (despido) da construção cultural de seu corpo. Ou, tal como descrevia Carvalho, um homem “sem tabus escolásticos”, “livre para raciocinar e pensar”, para começar um contínuo e irrefreável processo de curiosidade, mudança e transformação pessoal.
Flávio de Carvalho imaginava sua utopia urbana como uma constelação de centros e laboratórios localizados em círculos concêntricos: um “centro de ensino”, um “centro de parto”, um “laboratório de erótica”, um “centro religioso” (localizado dentro do laboratório de erótica) e um imenso “centro de pesquisa”, em cujo interior o cidadão poderia “descobrir as maravilhas do universo, o prazer pela vida, o entusiasmo em produzir coisas, o desejo de mudar.”. No caso específico do ‘laboratório de erótica’ desta singular cidade, Carvalho idealizava-o como um lugar onde “o homem nu selecionaria ele mesmo suas formas de erótica, onde nenhuma restrição exigir-lhe-ia este ou aquele sacrifício; sua energia cerebral seria suficiente para controlar e selecionar seus desejos […], seria o lugar onde encontraria sua alma antiga, onde projetaria sua energia solta em qualquer direção, sem repressão; onde realizaria seus desejos, descobriria novos desejos”. Ao entender a experiência da sexualidade como uma espécie de libido sem uma perspectiva determinada, isto é, sem um desejo construído, mas justamente como uma experiência contínua, rizomática, que se bifurcaria dentro do Laboratório de erótica de acordo com a subjetividade do indivíduo, Flávio de Carvalho, já em 1930, parecia propor um “plano diretor” que procurava dissolver qualquer fixação sociocultural na sexualidade e corporalidade do indivíduo.
A exposição A cidade do homem nu parte justamente do espírito transgressor de Flávio de Carvalho, em sua singular formulação para construir uma nova paisagem urbana nos trópicos, uma nova realidade. Tomando principalmente a experiência da sexualidade no “laboratório de erótica”, a mostra reúne obras e artefatos culturais que em vez de “ilustrar” o pensamento de Carvalho através do percurso museográfico, construirão o significado radical e contracultural do seu pensamento, abrindo as possibilidades de imaginar como poderia ser aquele lugar “sem tabus escolásticos”, “livre para raciocinar e pensar”, onde a corporalidade e a energia sexual do indivíduo poderiam se dirigir em “qualquer direção, sem repressão”.
Inti Guerrero
Curador
THE NUDE MAN’S CITY
With: Claudia Andujar, Cristina Lucas, Daria Martin, Dzi Croquettes, Egle Budvytyte, Flavio de Carvalho, Miguel Angel Rojas, Ney Matogrosso and Santiago Monge. Curated by: Inti Guerrero
In 1930, Brazilian artist and architect Flávio de Carvalho (1899-1973) proposed to build a new city in the tropics. His proposal, titled “The nude man’s city”, idealized a metropolis for the man of the future which according to De Carvalho, would have no god, property nor marriage. In other words, a ‘nude mankind’ that had stripped itself from its cultural body, or in his words, a man without ‘scholastic taboos’, ‘free for reasoning and thinking’ in order to begin a painstaking process of wonderment, change and self transformation.
Flávio de Carvalho imagined his urban utopia as a constellation of centers and laboratories located in concentric circles: a “Teaching center,” a “Breeding center,” a “Laboratory of erotica",” and a huge “Research center,” in which citizens could “discover the wonders of the universe, the pleasures of life, the enthusiasm to produce things, the desire to change.” In the specific case of this unique city’s “Laboratory of erotica" Carvalho envisioned it as an architecture where “the nude man would select his own erotic forms, where no restrictions would demand this or that sacrifice; his cerebral energy would be enough to control and select his desires […], it would be a place where he would find his old soul; where he would orient his energy toward any direction, without repression; where he would fulfill his desires, discover new desires.” By understanding the experience of sexuality as a kind of libido without a predetermined perspective, that is, without a predetermined constructed desire, but precisely as a continuous, rhizomatic experience, which would bifurcate inside the Laboratory of erotica according to the indivdual's subjectivity, Flávio de Carvalho, by 1930 seemed to propose an architectural “blueprint” which seek to dissolve any sociocultural fixation regarding people’s sexuality and corporality.
The exhibition A cidade do homem nu departs precisely from de Carvalho’s transgressive spirit in his unique formulation to construct a new urban landscape in the tropics, a new reality. Taking, from above all, the experience of sexuality in the “laboratory of erotica”, the exhibition gathers artworks and cultural artifacts, which rather than illustrating de Carvalho’s thinking, jointly and along the designed display, they will construct the radical and countercultural significance of his urban planning, thus opening the possibility of imagining how such a place might be that is “free of scholastic taboos,” “free for reasoning and thinking,” where the individual’s corporality and sexual energy may be directed in “any direction, without repression.”
Inti Guerrero
Curator
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Prefácio | Preface
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