sexta-feira, 16 de abril de 2010

Prefácio | Preface

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A CIDADE DO HOMEM NU
Com: Claudia Andujar, Cristina Lucas, Daria Martin, Dzi Croquettes, Egle Budvytyte, Flavio de Carvalho, Miguel Angel Rojas, Ney Matogrosso e Santiago Monge. Curador: Inti Guerrero

Em 1930, o artista e arquiteto Flávio de Carvalho (1899-1973) propôs a construção de uma nova cidade nos trópicos. Sua proposta, intitulada A cidade do homem nu, idealizava uma metrópole para o homem do futuro, o qual, segundo ele, não teria nem Deus, nem propriedade é nem matrimônio. Em outras palavras, tratava-se de um urbanismo pensado para uma humanidade que teria se despojado (despido) da construção cultural de seu corpo. Ou, tal como descrevia Carvalho, um homem “sem tabus escolásticos”, “livre para raciocinar e pensar”, para começar um contínuo e irrefreável processo de curiosidade, mudança e transformação pessoal.

Flávio de Carvalho imaginava sua utopia urbana como uma constelação de centros e laboratórios localizados em círculos concêntricos: um “centro de ensino”, um “centro de parto”, um “laboratório de erótica”, um “centro religioso” (localizado dentro do laboratório de erótica) e um imenso “centro de pesquisa”, em cujo interior o cidadão poderia “descobrir as maravilhas do universo, o prazer pela vida, o entusiasmo em produzir coisas, o desejo de mudar.”. No caso específico do ‘laboratório de erótica’ desta singular cidade, Carvalho idealizava-o como um lugar onde “o homem nu selecionaria ele mesmo suas formas de erótica, onde nenhuma restrição exigir-lhe-ia este ou aquele sacrifício; sua energia cerebral seria suficiente para controlar e selecionar seus desejos […], seria o lugar onde encontraria sua alma antiga, onde projetaria sua energia solta em qualquer direção, sem repressão; onde realizaria seus desejos, descobriria novos desejos”. Ao entender a experiência da sexualidade como uma espécie de libido sem uma perspectiva determinada, isto é, sem um desejo construído, mas justamente como uma experiência contínua, rizomática, que se bifurcaria dentro do Laboratório de erótica de acordo com a subjetividade do indivíduo, Flávio de Carvalho, já em 1930, parecia propor um “plano diretor” que procurava dissolver qualquer fixação sociocultural na sexualidade e corporalidade do indivíduo.

A exposição A cidade do homem nu parte justamente do espírito transgressor de Flávio de Carvalho, em sua singular formulação para construir uma nova paisagem urbana nos trópicos, uma nova realidade. Tomando principalmente a experiência da sexualidade no “laboratório de erótica”, a mostra reúne obras e artefatos culturais que em vez de “ilustrar” o pensamento de Carvalho através do percurso museográfico, construirão o significado radical e contracultural do seu pensamento, abrindo as possibilidades de imaginar como poderia ser aquele lugar “sem tabus escolásticos”, “livre para raciocinar e pensar”, onde a corporalidade e a energia sexual do indivíduo poderiam se dirigir em “qualquer direção, sem repressão”.


Inti Guerrero
Curador



THE NUDE MAN’S CITY
With: Claudia Andujar, Cristina Lucas, Daria Martin, Dzi Croquettes, Egle Budvytyte, Flavio de Carvalho, Miguel Angel Rojas, Ney Matogrosso and Santiago Monge. Curated by: Inti Guerrero


In 1930, Brazilian artist and architect Flávio de Carvalho (1899-1973) proposed to build a new city in the tropics. His proposal, titled “The nude man’s city”, idealized a metropolis for the man of the future which according to De Carvalho, would have no god, property nor marriage. In other words, a ‘nude mankind’ that had stripped itself from its cultural body, or in his words, a man without ‘scholastic taboos’, ‘free for reasoning and thinking’ in order to begin a painstaking process of wonderment, change and self transformation.

Flávio de Carvalho imagined his urban utopia as a constellation of centers and laboratories located in concentric circles: a “Teaching center,” a “Breeding center,” a “Laboratory of erotica",” and a huge “Research center,” in which citizens could “discover the wonders of the universe, the pleasures of life, the enthusiasm to produce things, the desire to change.” In the specific case of this unique city’s “Laboratory of erotica" Carvalho envisioned it as an architecture where “the nude man would select his own erotic forms, where no restrictions would demand this or that sacrifice; his cerebral energy would be enough to control and select his desires […], it would be a place where he would find his old soul; where he would orient his energy toward any direction, without repression; where he would fulfill his desires, discover new desires.” By understanding the experience of sexuality as a kind of libido without a predetermined perspective, that is, without a predetermined constructed desire, but precisely as a continuous, rhizomatic experience, which would bifurcate inside the Laboratory of erotica according to the indivdual's subjectivity, Flávio de Carvalho, by 1930 seemed to propose an architectural “blueprint” which seek to dissolve any sociocultural fixation regarding people’s sexuality and corporality.

The exhibition A cidade do homem nu departs precisely from de Carvalho’s transgressive spirit in his unique formulation to construct a new urban landscape in the tropics, a new reality. Taking, from above all, the experience of sexuality in the “laboratory of erotica”, the exhibition gathers artworks and cultural artifacts, which rather than illustrating de Carvalho’s thinking, jointly and along the designed display, they will construct the radical and countercultural significance of his urban planning, thus opening the possibility of imagining how such a place might be that is “free of scholastic taboos,” “free for reasoning and thinking,” where the individual’s corporality and sexual energy may be directed in “any direction, without repression.”


Inti Guerrero
Curator

Claudia Andujar

Claudia Andujar, Rua direita, 1970

[PT] Colocando a câmera no chão de uma das ruas de pedestres mais movimentadas do centro de São Paulo, Claudia Andujar [n. 1932, Suiça. Vive e trabalha no Brasil desde 1955] conseguiu captar o olhar individual dos transeuntes curiosos que por um instante detinham seus passos em meio ao congestionado fluxo urbano. Na série de fotografias Rua Direita [1970], o sinistro olhar de cada indivíduo detém a temporalidade da agitação coletiva da cidade. A confrontação da massa pela artista parece inverter as relações de poder entre fotógrafo e fotografado; nesse caso, são os transeuntes que controlam o olhar da fotografia. Coincidentemente, a rua Direita é a mesma em que Flávio de Carvalho realizou, em 1931, sua primeira Experiência no espaço urbano para analisar a psicologia de massas. Intitulada Experiência nº2, consistiu na infiltração do artista numa procissão de Corpus Christi em São Paulo, sem tirar o boné verde que ostentava e, além disso, caminhando entre os paroquianos em direção contrária ao fluxo religioso. Essa “simples” ação instigou de forma imediata a raiva coletiva dos fiéis, que imediatamente começaram a persegui-lo, exigindo seu linchamento (“Lincha! Lincha!”). O ato individual de Flávio de Carvalho entre a massa revelou, naquela época, a falta de individualidade das pessoas, que reagiram violentamente sob a influência das doutrinas ideológicas da Igreja. No caso das fotografias da Andujar, os olhares dos habitantes da cidade remetem a uma busca por sua própria representação, “livres para raciocinar e pensar”, na ausência de uma representatividade política sob o contexto repressivo da ditadura militar [1964-1985]. I.G.

[EN] Placing her camera over one of the busiest pedestrian streets of the center of São Paulo, Claudia Andujar [b. 1932, Switzerland. Lives and works in Brazil since 1955] managed to capture the individual gaze of curious passers-by, who for an instant paused among the crowded urban flow. In the series of photographs Rua Direita [1970], the uncanny gaze of each individual detains the temporality of the city’s collective agitation. The confrontation of the artist with the crowd seems to invert the power relations between the photographer and who is being photographed. In this case, the passers-by are the ones who control the gaze in the photograph. Coincidentally, rua Direita [Straight Street] was the same street on which, in 1931, Flávio de Carvalho realized his first Experiência in urban space to analyze crowd psychology. Entitled Experiência no. 2, de Carvalho infiltrated a Corpus Christi procession in São Paulo without taking off his green cap, and furthermore, walking among the parishioners in the opposite direction of the religious procession. The artist’s “simple” action immediately instigated the collective rage of the believers, who promptly began chasing him, crying out for him to be lynched, “Lyncha! Lyncha!” [Lynch him! Lynch him!”]. De Carvalho’s individual act before the crowd at that time revealed the lack of individuality of the people who reacted violently under the influences of the church’s ideological doctrines. In the case of Andujar’s photographs, with their gaze, the city’s inhabitants seem to be searching for their self representation, “free to reason and to think” in the absence of political representation under the repressive context of the military dictatorship [1964-1985]. I.G.

Egle Budvytyte


Stills from Egle Budvytyte, Secta, 2006

[PT] Na mesma linha de encontrar interstícios subjetivos dentro do espaço público, o vídeo Secta de Egle Budvytyte [n.1981, Vilnius] narra as práticas habituais de uma comunidade fictícia inventada pela artista. A forma pela qual se manifesta a identidade das pessoas que pertencem a essa sociedade oculta é seu uso particular do espaço público; ou melhor, seu mau uso. Os atos de “lamber as frutas no supermercado para degustar sua qualidade”, “raspar as pernas fazendo uso da água de um canal público” ou “mulheres usando banheiros públicos projetados especificamente para homens”, são exemplos de pequenos fragmentos de um vídeo que apresenta o raciocínio existente nessas situações aparentemente “absurdas”. - I.G.


[EN] In the same track of finding subjective interstices within public space, the video Secta [2006] by Egle Budvytyte [b.1981, Vilnius] narrates the habitual practices of a fictitious community invented by the artist. The identity of the people belonging to this hidden society is manifested through their peculiar use of public space, or rather its “misuse.” Examples from the video include “licking fruits in the supermarket to determine its quality,” “leg-shaving using the water in a public canal,” and “women using public urinals designed for men.” These small fragments present the rationale of these apparently “absurd” situations. - I.G.

Daria Martin

Daria Martin, Soft materials, 2004

[PT] No filme de 16mm Soft materials [2004], de Daria Martin [b. San Francisco,1973], dois bailarinos, um homem e uma mulher, entram num laboratório de inteligência artificial onde encontram próteses robóticas, construídas com formas e gestualidades humanoides. Por meio de movimentos e coreografias sutis, cada bailarino procura a maneira de interagir com esses artefatos que, após algum tempo, começam a reagir tocando sensualmente seus corpos. Como um flerte entre homem e máquina, Soft materials lembra os imaginários da vanguarda histórica sobre o erotismo; talvez a referência mais contundente seja o Ballet mécanique [1924], de Fernand Léger, em que a linguagem cinematográfica procurava desvelar os arquétipos sexuais nas formas e movimentos das máquinas e dos objetos industriais presentes na vida moderna. Em contraste, o desejo em Soft materials parece não ter arquétipos culturais prévios; trata-se, mais propriamente, de um momento instintivo, arcaico, um encontro de um corpo com outro. Um encontro primitivo com aquilo que parece desconhecido, sendo, ao mesmo tempo, uma manifestação visceral do homem com um objeto que está culturalmente prenhe da história do progresso tecnológico da humanidade.

I.G.

[EN] In the 16 mm film Soft Materials [2004] by Daria Martin, two dancers, a woman and a man, enter an artificial intelligence laboratory where they find robotic prostheses constructed with humanoid forms and gestures. Through subtle movement and choreography, each dancer tries to interact with these artifacts, which subsequently react by sensually touching their naked bodies. Like a courtship between man and machine, Soft Materials recalls the historical avant-garde’s imagery on eroticism. Perhaps the most significant reference would be Ballet Mécanique [1924] by Fernand Léger, in which the cinematographic language centers around revealing sexual archetypes in the forms and movements of machinery and industrial objects in modern life. In contrast, desire in Soft Materials seems to have no previous cultural archetypes. Instead, the work deals with an instinctive, archaic moment of the encounter of one body with another. It is a primitive encounter with that which appears to be unfamiliar, yet simultaneously it is a visceral manifestation of mankind with an object that is culturally charged by the history of humanity’s technological progress.

I.G.

Miguel Angel Rojas




[PT] Fazendo uso exclusivo das condições de luz emanadas das telas de cinema, Miguel Ángel Rojas [n. Bogotá, 1946] realizou em 1979 um extenso trabalho fotográfico dentro de cinemas de Bogotá onde aconteciam encontros homossexuais. As longas exposições criaram imagens imprecisas, gestuais e sinistras, que revelavam uma mínima indicação de atividade sexual, transtornando o olhar voyeur do espectador e conservando a atmosfera clandestina e anônima desses encontros. Para a exposição A cidade do homem nu, foram selecionadas, em conjunto com o artista, seis fotografias representativas do projeto Faenza, na maioria das quais Rojas sobrepôs frases curtas que descrevem esses cinemas como arquiteturas do desejo, como laboratórios de erótica, ou nas palavras do Rojas como uma 'Antropofagia nas cidades'. - I.G.


[EN] In 1979, Miguel Ángel Rojas [Bogotá, 1946] carried out an extensive photographic project attempting to portrait the
homosexual encounters taking place inside certain movie theaters in Bogota. By only using the precarious light conditions emanating from the movie screen, the long exposures of each photograph created blurry, gestural and uncanny images that revealed the minimal indication of sexual activity. Each of the 65 black and white photographs that compose the series, disrupts the viewer’s voyeuristic gaze by maintaining the clandestine and anonymous atmosphere of these encounters. Together with the artist, six photographs were chosen from the Faenza project. The majority of this selection, contain small phrases superimposed by Rojas to describe these theaters as an architecture of desire… a laboratory of erotica, or in his words as an 'Anthropophagy in the city'. - I.G.

Santiago Monge

Santiago Monge, Burlesque, 2007

[PT]
Duas outras obras na mostra abordam mais diretamente as construções culturais da idsentidade de gênero e sua possível desconstrução. Por um lado, em Burlesque [2007], Santiago Monge apropria-se de um anúncio de roupa íntima masculina dos anos 1970, em que as fotografias dos modelos têm “recortes” que deixam ver “o interior” de cada indivíduo. Esse olhar “endoscópico” sobre a roupa revela sutilmente as camadas culturais que constroem os códigos sociais de significado masculino.

[EN] Two works in the exhibition deal more directly with cultural constructs of gender identity and their possible deconstruction. On one hand, Burlesque [2007] by Santiago Monge appropriates a male underwear advertisement from the 1970’s, in which the photographs of the models have “cut-outs” revealing each individual’s “interior.” This “endoscopic” gaze at clothing, subtly reveals the cultural layers that construct social codes signifying masculinity.

Cristina Lucas


Cristina Lucas, You can walk too, 2006

[PT] Duas outras obras na mostra abordam mais diretamente as construções culturais da identidade de gênero e sua possível desconstrução.No caso de Cristina Lucas, seu vídeo You can walk too [2006], representa literalmente uma metáfora sexista usada por diferentes escritores ingleses ao longo da história, mostrando mulheres que tentam destacar-se na sociedade como “cães que andam sobre as patas traseiras”. A obra de Lucas é uma sequência em que diferentes cães de uma aldeia emancipam-se de suas donas, deixando seus lares sobre as patas traseiras.

Voice over no começo do video:

"Nick Greene, dissera que uma mulher representando lembrava-lhe um cachorro dançando. Johnson repetiu essa frase duzentos anos depois a propósito das pregadoras de saias. E aqui, disse eu abrindo um livro sobre música, temos as mesmas palavras novamente usadas neste ano de graça de 1928, sobre as mulheres que tentam escrever música: 'Senhor, a composição de uma mulher é como o andar de um cachorro sobre as patas traseiras. Não é bem-feita, mas já surpreende constatar-se que de qualquer modo foi feita'. Com que exatidão a história se repete..."


Virginia Woolf, Um teto todo seu, 1929

[EN] Two works included in the exhibition deal more directly with cultural constructs in gender identity and their possible deconstruction. In the case of Cristina Lucas [b. 1973, Jaen], her video You Can Walk Too (2006), literally represents a sexist metaphor used by different English writers throughout history, to represent women who try to stand out in society as “dogs who walk on their hind legs.” Lucas’ work is a sequence in which different dogs of a village escape from their female masters and leave their homes walking on their hind legs.

Voice over at the beginning of video:

"Nick Greene, said that a woman acting put him in mind of a dog dancing. Johnson repeated the phrase two hundred years later of women preaching. And here, I said, opening a book about music, we have the very words used again in this year of grace, 1928, of women who try to write music. 'Sir, a woman’s composing is like a dog’s walking on his hind legs. It is not done well, but you are surprised to find it done at all.' So accurately does history repeat itself..."

Virginia Woolf, A room of one's own, 1929

Flavio de Carvalho

Flavio de Carvalho, New Look, 1956. Desenho e paseata por São Paulo

Revista Manchete, Out, 1956

Revista O Cruzeiro, Nov, 1956

[PT] O único trabalho de Flávio de Carvalho [n. 1899, Rio de Janeiro - m. Valinhos, 1973] incluído na mostra é o New look [1956]; um traje executivo masculino, concebido especificamente para as condições climáticas, econômicas e culturais do homem urbano nos trópicos. Segundo Flávio de Carvalho, o traje executivo corrente era anti-higiênico, pois o design fechado e de tecido grosso recolhia e guardava o suor do corpo. A solução proposta pelo New look era melhorar a circulação do ar ao redor do corpo, ao defender o uso de uma minissaia branca pregueada e uma camisa leve de manga curta de cor viva, com orifícios na área axilar e uma estrutura de metal em seu interior que separaria a roupa do corpo da pessoa que a usasse. Em vez de expor o traje ou alguma réplica, serão exibidos revistas e jornais que, em 1956, documentaram amplamente o lançamento nas principais de São Paulo de sua vestimenta futurista tropical (incluindo a revista Time), que se tornou conhecido como a Experiência nº 3 como parte da série de experiências de Flávio de Carvalho para o estudo da psicologia de massas. - I.G.

[EN] The only work by Flávio de Carvalho [b. [n. 1899, Rio de Janeiro - d. Valinhos, 1973] included in the show is his New Look [1956]; a male business suit, designed specifically for the climatic, economic, and cultural conditions of the urban man in the tropics. According to de Carvalho the common business suit was unhygienic, because of its enclosed design, which trapped the body’s sweat within the heavy clothing’s texture. The solution proposed by his New Look was to improve air circulation around the body, by incorporating a white, pleated miniskirt and a light short sleeved shirt of vibrant colors, with openings around the armpit area and a metal structure on the inside to separate the fabric from the wearer’s skin. Instead of showing the suit or a replica, the exhibition will include a significant number of magazines and periodicals (including Time magazine) that widely documented the 1956 street launch of his futuristic tropical apparel, for which Flávio de Carvalho carried out his Experiência no 3, as part of the series of his experiences to study crowd psychology. - I.G.

Brasilia


Time magazine June 25, 1956


Opening of Brasilia, 1960. Palácio da Alvorada


Workers celebrating last day of construction, Palácio da Alvorada, Brasilia 1960


[PT] O ano em que Flávio de Carvalho lançou o New Look é de grande valor simbólico, pois foi justamente o ano em que o recém eleito presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, lançou o projeto que serviria de lema para sua modernização e à tecnificação do Estado: a construção de Brasília. Uma nova metrópole seria construída nos trópicos, sob uma linguagem arquitetônica muito diferente do imaginado por Flávio de Carvalho para sua cidade do homem nu. Poder-se-ia dizer que, no ano em que a opinião pública do Brasil concentrava-se na construção da nova cidade, sob retóricas moderno-nacionalistas sobre o Novo Estado, o novo Brasil, o novo brasileiro o novo homem, foi justamente quando Flávio de Carvalho decidiu criar seu New Look, conseguindo despir a cidade do seu presente, liberando de seus tabus escolásticos todas as pessoas que o seguiam, abrindo caminho para essa futura civilização nua. - I.G.


[EN] The year that de Carvalho launched the New Look is of great symbolic importance, for it was precisely the year in which the recently elected president of Brazil Juscelino Kubitschek, launched the project that would steer his politics towards modernization and technification of the state: the construction of the new federal capital, Brasilia. A brand-new metropolis was to be built in the tropics, with an architectural language diferent to the one envisioned by de Carvalho for his ‘A cidade do homem nu’. One could say that, in the same year that Brazilian public opinion concentrated on the construction of the new city, under the modernist-nationalist rhetoric about the New State, the new Brazil, the new Brazilian, the new man, Flávio de Carvalho decided to create his New Look with which perhaps he succeeded to undress the city of his present, freeing those who followed him from ‘scholastic taboos’ opening the way towards the future nude civilization. - I.G.

Ney Matogrosso




[PT] Foram incorporados à exposição outros tipos de materiais visuais que não pertencem estritamente ao campo da arte. Por exemplo será apresentado material visual do cantor Ney Matogrosso, cujo excêntricos vestuário e maquiagem, além do peculiar tom de voz feminino, converteram-no (e sua antiga banda Secos & Molhados) na proposta mais transgressora do rock brasileiro dos anos 1970. O interessante de Ney Matogrosso é que seu androginismo, sua ambiguidade, sua estranheza, sua queerness, em vez de permanecerem na subcultura, foram aceitos amplamente sob o clima repressivo da ditadura. Seus shows que enchiam estádios e as apresentações em televisão eram uma espécie de catarse psíquica do cantor, traduzida no cenário por meio de movimentos corporais agressivos. Para a exposição, Ney Matogrosso exibirá o vídeo Flores astrais, 1974, do Secos & Molhados, e o vestuário metálico original que usou em sua gravação. Da mesma forma, será exposto o estudo fotográfico realizado em 1975 para a capa do seu primeiro álbum como solista, cuja trama cênica trata de recriar um “retorno selvagem” a Ney Matogrosso, como um ser “sem tabus escolásticos”.


[EN] Other type of visual material, which does not strictly belong to the art field, has also been incorporated into the exhibition. For example, visual material from the singer Ney Matogrosso, whose eccentric costumes and makeup, along with his peculiar feminine tone of voice, made him and his band Secos e Molhados, the most transgressive proposal of Brazilian rock of the 1970’s. It is interesting that Matogrosso, with his androgyny, his ambiguity, his strangeness, his queerness, instead of remaining in subculture, was popularly received in the repressive climate of the dictatorship. His live performances, which filled stadiums and his TV appearances, were a type of psychic catharsis of the singer, which was translated on stage through his “aggressive” physical movements. For the exhibition, Matogrosso presents the video Flores astrais, 1974, by Secos e Molhados and the original metallic costume he wore for the shooting of the video. He will also show a photographic study, realized in 1975 for the cover of his first solo album, whose art direction attempts to recreate a “return to the savage”, a Matogrosso as a being “free of scholastic taboos.”

A verdade andava nua


[PT] Foram incorporados à exposição outros tipos de materiais visuais que não pertencem estritamente ao campo da arte. Por exemplo, a série de fotografias em preto-e-branco do artigo “A verdade andava nua”, publicado na revista O Cruzeiro em dezembro de 1949. As imagens documentam um grupo de jovens burgueses do Rio de Janeiro, que decide um dia ir à praia em roupas de gala e de inverno, para protestar contra a lei de higiene & moral da época que proibia usar as roupas de banho em outras partes da cidade que não fossem a praia. Sua ação subvertia a norma ao exagerar o absurdo da regra. - I.G.

[EN] Other type of visual material, which does not strictly belong to the art field, has also been incorporated into the exhibition. For example, the series of black and white photographs from the article “A verdade andava nua” [Truth Went about in the Nude], originally published in the magazine O Cruzeiro, December 1949 issue. The images presented, document a group of middle-class youth from Rio de Janeiro, who decided to go to the beach in gala and winter clothing, as to protest against the hygiene & moral law that in that time prohibited them to wear their swimming clothes in other parts of the city that were not strictly the beach. Their action subverted the norm by exaggerating the absurdity of the law.
- I.G.

A exposição | The exhibition

Parque Ibirapuera, Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil

Claudia Andujar, Rua direita, 1970

Entrance to black box, Daria Martin, Soft Materials, 2004 - C. Andujar, Rua direita, 1970

Egle Budvytyte, Secta, 2007 + Miguel Angel Rojas, Faenza, 1979

Miguel Angel Rojas, Faenza, 1979

Miguel Angel Rojas, Faenza, 1979 and Santiago Monge, Burlesque, 2007


MAR, Faenza, 1979 + Cristina Lucas, You can walk too, 2004

C. Lucas You can walk too, 2006 and Santiago Monge, Burlesque, 2007

Santiago Monge, Burlesque, 2007

Flavio de Carvalho, New Look, 1956. Vintage magazines, drawing and photographs

A verdade andava nua, 1949. Photographs of collective protest in Copacabana and Flavio de Carvalho, New Look, 1956

A verdade andava nua, 1949. Photographs of collective protest in Copacabana

Ney Matogrosso/Secos e Molhados, Flores Astrais, 1975 e A verdade andava nua, 1949

Secos e Molhados, Flores astrais, Video-clip + Traje metálico disenhado por [Metallic dress designed by] Mari Yashimoto

Ney Matogrosso, Traje metálico disenhado por [Metallic dress designed by] Mari Yashimoto

Ney Matogrosso, Água do Céu-Pasaro LP, 1975

S. Monge, Burlesque, 2007 & fotografias de [photographs of] Brasilia, 1960

Fotografias do ultimo dia de construção e abertura de [photographs of last day of construction and opening of] Brasilia, 1960

A verdade andava nua, 1949. Fotografias de protesto coletivo [Photographs of collective protest], Copacabana